Mauricio Moura: "Ganha quem disputa o campo popular: o PT, Ciro e Marina"

A avaliação é de Mauricio Moura, CEO da Ideia Big Data, uma consultoria com experiência em campanhas nos EUA e no Brasil.

Moura fechou recentemente parceria para trabalhar com Guillaume Liegey, que foi um dos marqueteiros de Emmanuel Macron na eleição francesa, e os dois participaram no começo do mês de uma maratona de conversas com pré-candidatos ou seus enviados, inclusive presidenciais, num trabalho de prospecção.

Confira alguns trechos da entrevista dele ao El País:

SOBRE A DESISTÊNCIA DE LUCIANO HUCK
El País - Quem ganha com essa desistência do Huck? Tem espaço ainda para surgir um novo outsider?

MauricioAcho que ganha quem disputa o campo popular: o PT, Ciro, Marina e até mesmo Bolsonaro. Acho que essa janela de produzir um outsider está se fechando. O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa certamente traria uma narrativa impactante, mas parece que essa potencial candidatura dificilmente vai se materializar. Um outsider nessa altura precisaria ser amplamente conhecido da opinião pública. Não enxergo quem ocuparia esse espaço. O que vai decidir a eleição é o eleitorado do Lula.

SOBRE A TRANSFERÊNCIA DE VOTOS DO EX-PRESIDENTE LULA
El País - E qual o potencial do ex-presidente de transferir votos? Ter ungido Dilma pesará como fator negativo?

Mauricio - Vamos imaginar que Lula tenha 30 pontos hoje - em algumas pesquisas é mais, mas vamos imaginar 30. Quando a gente tenta mensurar qual é hoje o potencial de transferência de voto, ele está na casa de um terço. São os que estão altamente inclinados a seguir uma indicação do Lula - os outros dois terços estão em disputa. Várias pesquisas mostram que alguns eleitores vão para a Marina, para o Ciro e até para o Bolsonaro. Vira uma disputa. Passa a ser um campo aberto. Mas a coisa é complexa. Quando testamos em pesquisa perguntando: e se o Lula for preso? Aí para o eleitorado popular dele é muito ruim. Ele, estando preso, tendo indicado a Dilma, está fazendo uma nova indicação. Mas, se ele não for preso, mas retirado da eleição, então vai depender de quando ele for retirado. Quanto mais próximo da data da votação ele for retirado, maior o poder de transferência de voto que ele vai ter. A gente no Brasil tem um laboratório que é o Distrito Federal. Em duas situações recentes, os candidatos foram retirados e colocaram seus prepostos e deu certo. Então, num cenário que Lula começa a fazer campanha e é tirado, pode ser que ele tenha um potencial alto de transferência de voto. Num cenário em que ele é preso agora, vai ser muito pior a performance no eleitorado popular.

SOBRE CIRO GOMES E MARINA SILVA
El País - E como ficam Ciro Gomes e Marina Silva nisso? Podem se encaixar na narrativa do novo?

Mauricio - Marina tem um eleitorado cativo, que permaneceu muito homogêneo em 2010 e 2014. É um eleitorado urbano, classe AB, muito escolarizado. A dificuldade que ela vai ter para evoluir e chegar no segundo turno vai ser se popularizar. Ela vai ter que se reinventar e fazer diferente do que fez nas últimas campanhas. Ela tem que traduzir a história. Ela veio do campo popular. Tinha tudo para ser o Lula de saias, mas a questão é como se popularizar. Ciro é um caso interessante para mim. Ele tem um grande potencial de incorporar os votos do Lula à esquerda. As pesquisas mostram que, quando tira o Lula, Ciro ganha o voto mais ideológico. E ele tem um fator que não tinha nas outras campanhas: ele não vai ser o único maluco na sala. O personagem do Bolsonaro pode ajudar a construir o personagem do Ciro. A gente tem que estudar bastante como o Bolsonaro de um lado pode ajudar o estilo único que o Ciro Gomes tem de fazer campanha, de verbalizar. Ele pode ser o outro lado do Bolsonaro, que é a direita, o conservador, mas que, como o Ciro, também representa a indignação. E o Ciro ainda tem o fator Nordeste. É um eleitorado que vai ficar especialmente órfão do Lula. Ficaria muito atento a como Ciro vai evoluir. Historicamente, a dificuldade do Ciro é sempre ele mesmo e ele tem consciência disso. Não é uma eleição de vender esperança para as pessoas. É uma eleição para o eleitor ver como está tudo errado e para isso a gente precisa de alguma coisa diferente.

Ciro Gomes, Marina Silva e Jair Bolsonaro

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